quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Teatro Kabuki



Etimologicamente Kabuki significa oblíquo. O significado individual de cada ideograma é ka= canto, bu = dança e ki = habilidade, e por isso a palavra kabuki é muitas vezes traduzida como "a arte de cantar e dançar". Porém esses ideogramas chamados de ateji (ideogramas usados apenas com sentido fonético) não refletem a etimologia da palavra, que hoje em dia, tornou-se um espetáculo popular que combina realismo e formalismo, música e dança, mímica, encenação e figurinos, implicando numa constante integração entre os atores e a platéia.                         
Originalmente recorda o início do século XVII, quando se parodiava temas religiosos com danças ousadas. No ano de 1629 esse tipo de teatro foi proibido pelo governo, então o espetáculo passou a ser encenado então por rapazes que vestiam-se de mulher.




O Kabuki é uma das formas mais representativas das artes teatrais japonesas. Seu início remonta à última parte do século XVI e graças a uma evolução contínua e extensiva foi aperfeiçoado até atingir o atual estado de refinamento clássico.
Durante o período chamado de Era Edo (século XVI), quando ocorreu o desenvolvimento do Kabuki, foi observada mais rigidamente a distinção entre a casta guerreira e a plebe do que em outros tempos da história japonesa. A arte do Kabuki foi cultivada principalmente pelos mercadores daquela época. Estes haviam se tornado cada vez mais fortes do ponto de vista econômico, mas continuavam em situação de inferioridade social porque pertenciam à classe plebeia. Para eles, o Kabuki foi talvez a forma mais significativa de expressão artística para manifestar suas emoções. Assim, os temas fundamentais do Teatro Kabuki são os conflitos entre o povo e o sistema feudal. Graças principalmente a esta qualidade humanística, o Kabuki obteve uma popularidade tão duradoura no seio do público daquela época, e assim permanece até hoje, sendo motivo de orgulho e afeição do país.





A verdade desta afirmação emerge do atual estado do Kabuki. Ele não descreve a vida contemporânea no Japão, país cuja civilização tem passado por um alto grau de ocidentalização. Mesmo assim, goza de grande popularidade até hoje.
De todas as características do teatro Kabuki, a mais importante é o fato de que não utiliza atrizes em cena. Todos os papéis femininos são representados por elementos masculinos conhecidos comoonnagata.
A interpretação constitui um dos principais elementos estéticos do Kabuki: a beleza "formalizada". Uma técnica especial é conhecida como "mie" é usado em certos momentos culminantes ou ao final de uma representação clássica pelo ator principal, que momentaneamente faz uma pausa numa atitude pictórica, olhando fixamente e cruzando seus olhos. Aqui se percebe a ênfase máxima dada à beleza estatuária. Os arranjos de cores são outra marca registrada do Kabuki.

     



O cenário, o vestuário e a maquiagem no Kabuki são geralmente reconhecidos como sendo os mais pródigos e extravagantes do mundo. Pode-se dizer que até certo ponto a popularidade do Kabuki é causada por sua beleza pictórica.
A música também é uma parte integrante da arte do Kabuki. O principal instrumento usado é o "shamisen", instrumento de três cordas tocado com uma palheta. Por esta razão todo o corpo musical associado ao Kabuki é considerado como música do "shamisen". Numa peça histórica ou doméstica, à medida que a cortina sobe, a música inicia os seus acordes avivando a atmosfera inanimada do palco.







Vídeos:







Fontes:
 

O Teatro Japonês: Nô



Nō, Nô, Nou ou Noh é uma forma clássica de teatro profissional japonês que existe desde o século XIV. Um drama lírico, combinando canto, pantomima, música e poesia que evoluiu de outras formas teatrais, aristocráticas e populares, incluindo o Dengaku, Shirabyoshi e Gagaku.
Caracteriza-se pelo seu estilo lento, de postura ereta, rígida, de movimentos sutis, bem como pelo uso de máscaras típicas. O foco da narrativa se encontra no protagonista (shite), o único que porta uma máscara. Shite é um espírito errante que exprime, de forma lírica, a nostalgia dos tempos passados. O coadjuvante (waki), geralmente um monge, não interfere no curso da ação, apenas é revelador da essência do shite. Um coro e quatro instrumentos auxiliam na condução da trama, que se soluciona através da dança. Esse coro vale destacar, possui uma função dramática decisiva, conduzindo à narrativa. O teatro Nô não é para ser compreendido e sim para ser sentido. Sentir a energia do ator em cena.

                                                       




No que se referem à interpretação, os movimentos sintéticos do ator, são quase imperceptíveis como, por exemplo, de uma maneira estilizada e sutil, levanta os olhos para a lua, ou num gesto com a mão retira a neve do kimono. Esses movimentos fazem surgir aos olhos e espírito do espectador, um universo todo poético, um mundo visto de diversos ângulos envolvendo fenômenos da natureza e da vida.
O cenário é, invariavelmente, constituído apenas pelo "kagami-ita", um pinheiro pintado, no fundo do palco, mesmo que a peça se desenrole noutros locais. Há várias explicações para o uso desta árvore, sendo muito comum a interpretação que se refere aos rituais xintoístas, pelos quais os deuses descem a Terra por este meio. Outro adereço inconfundível é a ponte estreita (a "Hashigakari"), situada à esquerda, que os principais atores utilizam para entrada e saída das personagens.


                                                     




Conhecido como comédia, o teatro Noh Kyogen tem sua origem no mesmo período que o Nô e servia como intervalo entre suas apresentações. Porém, nos últimos anos, houve uma pequena mudança e algumas peças Kyogen já começaram a ter programas exclusivos. Talvez por ter iniciado como intervalo de programa, frequentemente o estilo Kyogen é confundido com o Nô. Mas o Kyogen é uma peça-diálogo de uma farsa mímica cujo objetivo é provocar "riso". Porém não se pode classificá-lo sempre como um simples gênero de comédia, seu humor nem sempre tem um caráter feliz, e algumas peças dependem de frases humorísticas ou fazem uso de sátira. Algumas chegam a alcançar os limites da tragédia e das lágrimas enquanto outras focalizam o isolamento e a solidão humana.
O Kyogen procura fazer um contraste com o drama do Nô e seu humor é um dos resultados da busca deste efeito. Diferente do Nô que tem apenas um personagem principal, no Kyogen dois personagens ou dois grupos de personagens são lançados um contra o outro e dialogam de forma coloquial. Como no Nô, os artistas são apenas do sexo masculino. Geralmente se apresentam com o rosto limpo, mas há momentos em que utilizam máscaras, preferindo sempre as irônicas. Algumas máscaras são adaptações das utilizadas no Nô que, apesar de penderem para o humorismo, não são grosseiras.
                         
                              




Com o também chamado Ai-Kyogen, os atores podem participar do drama do Nô e aparecem para preencher o palco como, por exemplo, quando os atores do Nô precisam trocar o vestuário entre a primeira e a segunda metade da peça. Nesse caso o ator de Kyogen apenas explica a identidade do shite ou comenta o desenvolvimento do enredo.
A cultura japonesa, principalmente o noh, ficou conhecida no ocidente graças ao trabalho de Ernest Fenollosa, norte-americano que trabalhou na Universidade de Tóquio nos anos de 1878 a 1886. Outros grandes artistas que desenvolveram seus trabalhos fortemente influenciados pelo teatro noh e pelo trabalho de Fenollosa foram Ezra Pound e Yeats em 1913 e em 1921 Paul Claudel, embaixador da França no Japão, Stanislavski e Meyerhold também foram influênciados por este teatro e Bertold Brecht, adaptou em 1930 a peça "Taniko", com o título Der Ja-sager (aquele que diz sim), adaptado de uma versão inglesa.
Não se pode falar em Teatro Noh no Brasil sem mencionar o nome Hakuyokai (Etimologicamente: Haku = Brasil, Yo = canto de Noh e Kai = associação), o grupo pioneiro de praticantes de Noh, da cidade de São Paulo que tanto contribuiu para a divulgação desta arte no país. Nobuyuki Suzuki, pesquisador e professor universitário, veio ao Brasil a serviço do Ministério da Educação e do Ministério das Relações Exteriores do Japão, em 1939 com o objetivo de ministrar palestras sobre a cultura nipônica.
Nesta viagem, convocou todos que quisessem participar de um encontro de Noh. A partir de então, até o início da Segunda Guerra Mundial, houve algumas apresentações, sendo que, nesses encontros, participavam tanto a Escola Kanze quanto a Hosho.
Após seu retorno ao Japão, com o término da Guerra, alguns praticantes sucederam-no, inclusive seu filho Takeshi Suzuki, na organização dos encontros. Takeshi, da Escola Hosho, empenhou-se no estudo e na prática desta arte, fazendo apresentações regulares e, em 1984, comemorou a 100ª apresentação do grupo Hakuyokai.
Com a morte de Takeshi Suzuki e de Noboru Yoshida (Escola Kanze), os grupos se dispersaram e, as atividades da grande maioria deles ficaram restritas aos treinos de canto de Noh e, nos últimos anos, não se registram apresentações conjuntas.


 Vídeos:

    Teatro Nô:




Teatro Nô no Brasil: 






Fontes:
SUZUKI, Eico - Nô Teatro Clássico Japonês, Volumes 1 e 2



Gutai Bijutsu Kyokai




O grupo Gutai (significa "Incorporação") é o primeiro grupo radical, do pós-guerra no Japão. Foi fundada pelo pintor Jiro Yoshihara em Osaka, no Japão, de 1954, em resposta ao contexto artístico reacionário da época. Este grupo influente conhecido como Gutai Bijutsu Kyokai foi envolvido em ambientes multimédia em grande escala, performances e eventos teatrais.

                                                        
                                          Jiro Yoshihara e Grupo Gutai Bijutsu Kyokai


O kangi usado para escrever 'gu' significa ferramenta, medidas, e uma maneira de fazer algo, enquanto 'tai' significa corpo.
Em 1956, Yoshihara escreveu o manifesto do grupo Gutai. O texto completo do "Gutai Manifesto" está disponível em Inglês na do Japão Ashiya Cidade Museu de Arte e História site. Entre as suas preocupações, o manifesto expressa um fascínio com a beleza que surge quando as coisas se tornam danificados ou deteriorados. O processo de dano ou destruição é comemorado como uma forma de revelar a "vida" interior de um determinado material ou objeto:
“Mas o que é interessante a esse respeito é a novela beleza a ser encontrada em obras de arte e arquitetura do passado que mudaram sua aparência devido aos danos do tempo ou destruição por desastres no decorrer dos séculos”.

                                                    
                                                    "Gutai Manifesto" 


Influenciado pelo contexto internacional, o grupo procurou aproximar-se de algumas das propostas das vanguardas ocidentais, cruzando com a pintura tradicional japonesa que era realizada sobre papel de arroz (o que determinava uma execução muito rápida e espontânea). Realizaram um conjunto de pinturas gestuais ligadas ao movimento da Action Painting (e mais diretamente à obra de Jackson Pollock) que se caracterizavam pela violência do processo de criação, pela radicalização dos meios e dos procedimentos e pela abordagem de inúmeros formatos e expressões, como a grande escala, o multimédia, o teatro e performance.
                                                        


Responsável por algumas das mais interessantes manifestações artísticas dos anos 50, o Grupo Gutai tornou-se um doa precursores da Arte Processual e do happening do final dessa década.



Fontes: